domingo, 25 de maio de 2008

A dimensão do descalabro

Após mais um ano em que nenhum troféu foi adicionado às vitrinas do glorioso, procura-se as causas que provocam o insucesso. Desde a falta de talento à teoria da conspiração, tem sido muitas as razões apresentadas, é certo que todas terão uma ponta de verdade, mas será redutor ver a explicação apenas numa delas. O futebol é um desporto colectivo e o sucesso ou insucesso de um clube segue o mesmo principio, pois é determinado através da conjugação de vários factores. Aspectos como a realidade económica, a envolvente social, a competência e qualidade dos recursos humanos, são factores determinantes para o sucesso do clube. O profissionalismo, o rigor, a perseverança, a força de vontade, a união, são valores que tornam mais fácil esse caminho. É na incompletude destes factores e valores que reside o descalabro encarnado. Usemos a História para melhor compreende-lo. Dividindo o historial do futebol português em 6 períodos, encontraremos factos reveladores e interessantes.

1º Período - 1921/22 a 1933/34 - A Pré História -

Nesta altura disputava-se somente o Campeonato de Portugal, prova idêntica a actual Taça de Portugal, que na 1ª edição foi disputada pelos campeões de Lisboa e Porto, mas foi gradualmente aumentado os participantes e tornando-se uma prova nacional. Os vencedores.

Belenenses - 3
FC Porto - 3
Benfica - 2
Sporting - 2
Olhanense - 1
Marítimo - 1
Carcavelinhos - 1

2º Período - 1934/35 a 1945/46 - A águia domina -

Em 1934, começa a disputar-se o primeiro campeonato nacional, na época de 1938/39, o Campeonato de Portugal passa a chamar-se de Taça de Portugal.

Benfica - 6 CN 1 CP 3 TP
Sporting -2 CN 2 CP 2 TP
FC Porto -3 CN 1 CP
Belenenses - 1 CN 1 TP
Académica - 1 TP

3º Período - 1946/47 a 1958/59 - Os 5 violinos -

Sporting - 8 CN 2 TP
Benfica - 3 CN 7 TP
FC Porto - 2 CN 2 TP

Neste período de orgulho leonino, é de destacar que o glorioso conquistou o mesmo número de troféus que os lagartos. Outra nota que gostaria de destacar é a conquista de 6 campeonatos de juniores por parte do Benfica, precursora de uma época áurea encarnada.

4º Período - 1959/60 a 1976/77 - A águia gloriosa -

Benfica - 14 CN 5 TP 2 TC
Sporting - 4 CN 4 TP 1 TT
FC Porto - 2 TP
Boavista - 2 TP
V.Setúbal - 2 TP
Belenenses - 1 TP
Braga - 1 TP
Leixões - 1 TP

O glorioso tem um período de grande afirmação tanto internamente, como na Europa, esse domínio estende-se também ao escalão júnior onde se conquistam 8 títulos. Mas no final deste período acontece um momento determinante, a contratação de José Maria Pedroto para treinador do FC Porto, por parte de Pinto da Costa, na altura vice presidente para o futebol. Pedroto era um estratega da bola com provas dadas, responsável pelos êxitos de FC Porto e Boavista, neste período, alcançou ainda dois 2º lugares, no campeonato, com V.Setúbal e Boavista.

5º Período - 1977/78 a 1993/94 - A guerra norte-sul -

Nesta fase é introduzida uma nova competição, a Supertaça.

FC Porto - 8 CN 4 TP 7 ST 1 TC 1 TI 1 SE
Benfica - 7 CN 7 TP 3 ST
Sporting - 2 CN 2 TP 2 ST
Boavista - 2 TP 2 ST
Belenenses - 1 TP
E.Amadora - 1 TP
V.Guimarães - 1 ST

Com Pedroto no leme e Artur Jorge como seu discípulo, o FC Porto começa a marcar uma era. O período foi de renascimento do dragão, no entanto é de salientar que o glorioso manteve um equilíbrio de forças, somente prejudicado com as Supertaças. Duas notas importantes, primeiro a conquista de 10 campeonatos de juniores por parte dos tripeiros, segundo surgiam sinais evidentes de instabilidade no Benfica, nomeadamente ao nível financeiro.

6º Período - 1994/95 a 2007/08 - A consagração do dragão -

Na última época é introduzida a Taça da Liga, no calendário nacional.

FC Porto - 10 CN 5 TP 8 ST 1 LC 1 TU 1 TI
Sporting - 2 CN 4 TP 4 ST
Benfica - 1 CN 2 TP 1 ST
Boavista - 1 CN 1 TP 1 ST
V.Setúbal - 1 TP 1 TL
Beira Mar - 1 TP

Este período, de facto não é digno dos pergaminhos do Benfica e o ano de 1994 marca sem dúvida o inicio do descalabro, quando após a conquista do campeonato, Manuel Damásio contrata o treinador Artur Jorge.

No fundo temos,
- 60 anos recheados de êxitos por parte do Benfica, criando a ilusão de que a glória seria eterna, este pensamento minou todos os benfiquistas desde adeptos a dirigentes.
- A competência e a argúcia de Pinto da Costa que soube rodear-se de excelentes profissionais e construir um clube forte. Quero salientar que apesar do Apito Final, acredito que muitos dirigentes benfiquistas e sportinguistas, também terão usado meios ilícitos, por isso, não deve ser desvalorizado o trabalho de Pinto da Costa.
- A enorme incompetência das direcções encarnadas, dos finais dos anos 80 e da década de 90. Após o desequilibrar das finanças do clube, foi o desmantelar de um núcleo de jogadores que transportava a chamada mística do clube, por parte de Artur Jorge. Atenção este só é culpado por que Damásio deixou. Para completar, Vale e Azevedo veio para dar a pancada mestre.

Na minha opinião, a hora é de baixar as expectativas, reconstruir com paciência uma nova mística que nos leva a um longo período de glória. Vai levar o seu tempo e sei que todos querem títulos já, mas é melhor festejar um título sustentado num projecto sólido, do que festejar um título e estar de novo em jejum muito tempo.

1 comentário:

Antlp disse...

É obvio que na base de qualquer Projecto ou objectivo estão sempre os alicerces sólidos e convincentes, as pessoas certas e aglutinadoras, mas às vezes também é necessário que os acontecimentos e os títulos reforcem e desenvolvam essa ambição, é como aquela velha história, quem é que puxa por quem: o jogador tem que convencer e empolgar o adepto, e este por vezes não rende sem o carinho e o apoio do público...
Os alicerces firmes são toda uma série de factores e de condicionantes, desde logo a paixão, a autenticidade, o querer e lucidez com que avançamos na vida: O Rui Costa é uma grande rocha, o Quique augura-se-lhe uma ambição inabalável, o barco parece dar mostras de estar a flutuar mais equilibrado...