Surgem os primeiros movimentos de contestação ao treinador, não tarda veremos os alvos lenços desfraldados na Luz. Pergunto, para quê? Para quê voltar à velha história de pedir a cabeça do treinador após os maus resultados. Que frutos trará? Certamente, os mesmos de sempre, nenhum. Não estou contra a contestação, ela é necessária e perceptível, mas acredito que trilhar este caminho é um tremendo erro, pois julgo que
Quique Flores é um bom treinador para relançar o clube na senda dos êxitos e, sobretudo, o Benfica tem de assumir de uma vez por todas um ano zero. Já chega de revoluções e reconstruções, desde a época 2004/05 em que fomos campeões nacionais, a equipa já conheceu 3 directores desportivos, 5 treinadores, 3 modelos de jogo e foram contratados 49 jogadores. Basta.
Um dos motivos da contestação é o modelo de jogo, o 4-4-2, o que não deixa de ser irónico quando sabemos que a maioria dos adeptos prefere um esquema de dois avançados. Quique Flores tem mostrado ser avesso a alterações tácticas, parecendo, por vezes, ter falta de capacidade para ler o jogo. Mas será isso ou será que ele quer que a equipa assimile bem o modelo de jogo? E será que Quique está a escolher o modelo errado em função do plantel que tem ou, será que os jogadores não tem correspondido às expectativas criadas por ele? Mas se hoje existem razões para contestar, convém lembrar que este modelo já foi motivo de alvissaras quando o Benfica defrontou Sporting, Nápoles e Marítimo.
Inteligente e esclarecido, Quique Flores tem tudo para singrar no Benfica, quem como ele tem a clarividência para definir e identificar as situações, possui as qualidades para ser um bom profissional. Confesso admirador do seu discurso arguto, lembro algumas referências importantes.
"... temos que criar uma mentalidade vencedora."
Quique afirmou-o no arranque da temporada conseguindo sintetizar, numa palavra, os problemas que afectam o clube, a mentalidade. O Benfica, desde o presidente à massa adepta, vive agarrado ao passado glorioso do clube e, acredita que o que se conquistou ontem chega para ganhar amanhã, no entanto, o mundo vive em permanente transformação e o futebol não foge à regra. O Benfica do passado era um clube dominador que construiu uma reputação mundial, era visto por técnicos e jogadores como topo de uma carreira, o sonho de criança. Era a mística o alicerce das vitórias. Hoje tudo é diferente, o legado perdeu-se nas inúmeras revoluções, o Benfica deixou de dominar em Portugal e perde-se nos corredores da Europa, os jogadores olham o clube como um entreposto para mais altos voos, servem-se da camisola em vez da sentir. A mística desapareceu. É a resistência a esta realidade que trava a criação de uma nova mística.
"Em Portugal é difícil habituar os jogadores ao trabalho físico"
Esta frase faz parte de uma entrevista concedida ao El País, antes do jogo com o Trofense mas publicada depois do jogo. Mais uma vez, Quique é perspicaz no seu discurso tocando num problema que afecta não só o clube como o futebol português. Provavelmente, estará aqui a explicação para tantas lesões que tem afectado a equipa, reside aqui a razão para a incapacidade do Benfica manter um ritmo de jogo elevado. Ora se as leis dizem que o aspecto físico é, a base que sustenta os aspectos técnicos e tácticos, encontramos aqui um travão à rápida e sustentada aquisição de dinâmicas no modelo de jogo.
"Não posso admitir que durante os treinos exista responsabilidade, empenho e dinâmica e, depois, nos jogos aconteça o que aconteceu, mas isso é uma missão que eu tenho de resolver."
Proferida após o jogo da Trofa, Quique mostra uma das virtudes do seu discurso, o assumir das responsabilidades, factor determinante na personalidade de um treinador.
Outras referência podia recordar, mas estas bastarão para o leitor tirar as suas conclusões.
Para mim Quique Flores é o homem certo.
Por quê?
Por que Quique é realista nos objectivos, metódico na gestão, inteligente nas análises e coerente nas decisões.
Por isso, eu acredito.